TRAJETÓRIAS DE MÁRIO SAA

Evangelho de S. Vito

Em 1917, Mário Saa, com 24 anos, publica a obra Evangelho de S. Vito, na qual aflora, imediatamente, a influência de Nietzsche, nomeadamente o estilo aforístico, por exemplo, de Assim Falava Zaratustra.
O Evangelho de S. Vito, numa edição de autor de 1921 (através da Monteiro & C.ª – Livraria Brazileira, em Lisboa), apresenta-se em três “Livros”, num total de 237 páginas, finalizando com uma provocação ao leitor a propósito do “Índice”: «Cada qual escreva-lhe o índice como quizér, porque S. Vito é aquele que conversa com muitos.// Há menos talento no que escreve um livro — que no que faz um bom indice para esse livro.»

Algumas passagens:

«Na verdade se quereis saber dos limites da noite aproximae-vos do sol; o que queira analisar é mister que se afaste, mas para isso é necessário ter asas.» (p. 7)

«[…] o Eu-não-ser-Tudo eis a Matéria! Porém quem for infinito não vê arestas nem faces!» (p. 9)

«Cavalga um cisne real e INFINITISMO é a sua real palavra.» (p. 234)


A Explicação do Homem

Em 1928, Mário Saa publica a obra Explicação do Homem – atravez duma auto-explicação e em 207 tábuas filosóficas, a qual, e na sua edição de autor impressa na Imprensa Lucas & Companhia (Lisboa), se apresenta como uma obra de 265 páginas e estruturada do seguinte modo: «Divisão da Obra – Em 207 tábuas filosóficas», a qual compreende «A Metódica ou sêja, acerca do mètodo – Introdução», seguida de «I – História Natural – Naturalística. I, II e III partes», «História Sobrenatural – Religiosa. I e II partes», finalizando com a «Super-História – Metafísica». Nas páginas 261 e 262 encontramos um extenso «Indice».
Nesta obra, Mário Saa mantém a sua predileção pelo aforismo, justificando--a na “Tábua 19 – Do género aforístico”: «O aforista é o que reflúe o seu mar a golfos de síntese, o que faz do seu saber látegos de nós. // Cada nó é um aforismo, e cada aforismo a concentração de um mundo.» (p. 29).

Algumas passagens:

De “O Elogio da Sabedoria Inculta” (Tábua 5)
«É sobretudo a cidade um grande livro; por elas ando eu com lápis e papel colhendo lições.» (p. 17)

“Das cinco linguagens da expressão” (Tábua 29)
«Toda a comunicação é perceber e pintar; e cada um destes modos de perceber e pintar é recebido e transmitido pelos três atributos de existência: tempo, espaço, e distância; isto é, Ritmo, Melodia e Fôrça.» (p. 43)

“Da cosmogonia infinítupla” (Tábua 205)
Mário Saa extrai uma passagem do Evangelho de S. Vito (cf. op. cit., pp. 208-214), para ilustrar esta Tábua. Escolhemos, relacionando ambas as obras, o seguinte aforismo: «Cada qual transporta à mão o infinitamente longínquo.» (p. 254)

A Erridânia – geografia antiquíssima

A obra Erridânia – geografia antiquíssima: A Atlântida, Do Oriente ao Ródano, A Oeste do Ródano, A África Erridânica foi publicada a 19 de Outubro de 1936, numa edição de autor, através da Sociedade «Astória» - Artes Gráficas (Lisboa).
Com 300 páginas esta obra apresenta-se em três partes, sendo a primeira dedicada a  «O  mundo Atlantídico», a segunda a «O Mundo Argonáutico», e a terceira a «O Mundo Erridânico».  Do conjunto de 27 gravuras que ilustram os textos, transcreve-se, a título de exemplo a legenda da figura 20 (p. 174) que evidencia a interpretação das fontes sobre a geografia da Antiguidade, por parte de Mário Saa: «O mapa mais antigo do Ocidente da Europa, sistema do cartaginês Himílcon; VI sec. antes de Cristo – Interpolatio I¸ da “Ora Marítima”. (Interpretação de Mário Saa).» 
Nesta edição da Erridânia, na segunda página do livro, Mário Saa dá notícia das suas principais obras publicadas até à data, na qual contava, então com 43 anos:

Evangelho de São Vito
Poemas Heroicos de Simão Vaz de Camões
Camões no Maranhão
A Invasão dos Judeus
Poemas da Razão Matemática
A Explicação do Homem
Formações Metropolitas

Algumas passagens:

De «O Mundo Atlantídico»
«Sólon, legislador dos gregos, e o primeiro dos sete sábios da Grécia, andando um dia em viagens pelo Egipto, aprendera da boca dum culto sacerdote da cidade de Saïs, no Delta do Nilo, algumas coisas acerca dos antigos atenienses, e da luta que estes mantiveram com um poderoso povo do Ocidente que tinha a sua metrópole na Ilha do Atlas, dita pelos gregos Atlântida; ilha esta que foi submergida, depois, por um cataclismo de ordem universal que, outro sim, atingira a Ática e os próprios gregos.// Sólon tomava estas notas cerca de sete séculos antes de Cristo. // Platão, que é do século IV antes de Cristo, havendo às mãos, por intermédio de Critias, os escritos, ou os conhecimentos inéditos, de Sólon, resolveu divulgá-los. E, assim, compôs com eles os famosos diálogos do Timeu e do Critias.» (pp. 7-8)

De «O Mundo Argonáutico»
«Contavam-se na Grécia histórias de nautas, corredores de longínquos países habitados por extraordinárias gentes. Na essência eram histórias de amor nos braços de uma geografia antiga. O mundo conhecido  era então bastante reduzido, mas parecia enormíssimo. Contavam-se coisas fantásticas dos que se arrojavam às extremidades da terra.// Com o correr das idades poetas e filósofos assenhorearam-se desses contos fantásticos, e, recheando-os da melhor efabulação e conceitos, vieram neles a expor os sistemas geográficos do seu tempo, ou dum tempo anterior, no que revelaram o seu amor à História.// É nesses poemas a parte dos conceitos geográficos dos antigos que, presentemente, nos interessa.» (p. 75)

De «O Mundo Erridânico»
«Muito se tem pensado e escrito acerca desta obra [Ora Marítima], e algum progresso se tem notado na identificação dos topónimos duma tão obsoleta geografia. Todavia, a erudição acumulou, em sua volta, um tal aluvião de dados que, a Ora Marítima, em vez de se tornar o objectivo desse aluvião, tornou-se dele um subsídio... Assim, esta obra, passa à categoria de explicadoura de coisas que foram trazidas a público para a explicarem a ela...// Tenho a honra de apresentar aquela que eu suponho ser a interpretação integral da Ora Marítima, para o que tive de alterar os métodos de ensaio, até hoje experimentados em face deste problema, e, tornando, de cada vez mais, a erudição subsidiária da lógica, que não o inverso. O inverso foi o que até hoje se seguiu, mas sem resultado.» (p. 170)